quarta-feira, 28 de setembro de 2016

"...Mas é que nunca precisei de alguém ao meu lado para preencher o vazio da minha sombra. Alguém que eu pudesse dar o convite do acompanhante nas festas de família e nas formaturas dos meus amigos. 
Conheço muita gente que precisa deixar essa sombra preenchida. Que precisa de acompanhante para as horas vagas, para as horas que o mundo espera que você esteja de mãos dadas, por uma simples questão de etiqueta. E, ao preenchê-las, acabam também preenchendo todos os momentos importantes de suas vidas com pessoas que serão descartadas e substituídas na velocidade em que se troca de roupa e no grau de importância das decisões mais costumeiras. 
Era outro perfil que eu não me encaixava. E se fosse o caso de passar meses, décadas ou até anos sem esses relacionamentos, não acho que carregaria o peso de uma culpa. Pois confiava no fato de que é muito mais prazeroso esperar para viver os mesmos momentos bons que vivi sozinha, ao lado de alguém que me faz vivê-los novamente em dose dupla. Os sentindo pela pulsão de dois corações. Frenéticos e fundidos..."
Até quando, na relações atuais, o amor será alvo de um jogo de egos? Além de absurdo, é paradoxal. Visto que, quem ganha é o sujeito que ama menos. Quem ama muito, quem ama demasiado, sendo, portanto, mais amante do que amado, perde. Perde o poder de conquista, torna-se vulnerável, perde o controle e perde-se. No jogo das relações perder-se é sinal de fraqueza, motivo para recuar duas casas. Mas, no fim, quem mais perde é o amor, que acaba por perder o sentido.

O acalento

Aquela ausência declamada
Derramada em chorinhos bonitos
Ouvia-se melancólica a tristeza
Ao som que propagava

No Poço da panela três velhos músicos
Faziam da falta que eu sentia
Do platônico amante desejado
Do pranto que não se prendia

Do amor desvairado, descabido
De um coração maltratado
Uma dor suportável ao ouvido

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Metapoesia

Diverso, pocesso é o verso
À duras penas mal sabia
Escrever  se faz  processo

Reconstituição, reparação
Tudo era inconcluso
Até conseguir libertação

Vigia rima com fingia
Em qual verdade  se encaixam
As palavras dessa língua
Nem de longe  falam

Se busco símbolos
Me falta linguagem
Mas se me prendo à isso
O excluo de várias tribos

A verdade é que não sei
Tampouco entendo
Quais versos
Vão soar mais sinceros

Se eu decido declarado
Sentimento desprendido
Pareço fazer pouco caso
Do turbilhão que há comigo

Um amigo fumante



Mapeava o local em um trago
Andarilho solto era o amigo
Que precisava de cigarro

Meia volta ali, à espreita
Esperava não está à mercê
Depois de feito a cabeça

Ritual que mistura fumaça
Depois da primeira
A outra era a que anulava

Queres um? Perguntava
Com um aceso em minha frente
Mas era tão dele a cena
Que estragar não tinha em mente

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Decisão arriscada

Se você sumir eu juro que te esqueço.
Mudo o cabelo, troco o endereço.
Faço as pazes com aquele rapaz
Corro o risco e volto ao cais.
Comigo funciona a presença.
Falta de contato, ou de tato,
você sabe, não tenho paciência.
Também não gosto de ladainha.
Quando volta e faz o arrependido,
perceberás a vaidade comigo
Cabelo comprido e nova companhia.
Mas isso tudo é mania minha.
Remediar o trágico, e te atentar
ao caso de querer sumir,
quando decidiu me amar

Bom humor matinal


Enquanto corria a água límpida
um verso gritante cantarolava
Dentro de mim havia música,
mas ela vinha de fora


E o líquido jorrava, o sol refletia.
Adentrava sem se preocupar.
O silêncio cortante que antes existia

Não tinha água, nem aurora
Muito menos verso de música 
Deixando beleza rústica, foi embora 

Agora, o instante que se refaz
é feito de mar como outrora. 
É feito de céu, 
E toda a energia que ele traz